SINGIN’
ALONE – ARNALDO – II ÁLBUM – (1982) – Produção:
Arnaldo Baptista.
Arnaldo Baptista fala sobre o álbum “Singin’ Alone” - Junho 2013. Quando fiz este LP, o Singin’ Alone, pensei: o que está faltando na minha carreira? Algo que fosse capaz de abranger tudo que alcanço no universo. Então, optei por um tipo de linguagem, de espectros, de pensamentos, de entidades ... E todos os lugares onde eu ia, tentava colocar em poesia. Ou seja, a personalidade aparece nesta vida diária, em parte das letras, trechos da minha vida naquela época. Outro aspecto é que toco tudo neste disco: bateria, contrabaixo, teclado, guitarra... Às vezes coloco uma gaita, pandeiro, caixinha de música – one man band.... Em todos os conjuntos que tive até hoje, sempre existiram fatores que eu não concordava: a marca do contrabaixo, muito agudo; o amplificador mal regulado; uma pessoa muito egocêntrica... Neste disco, portanto, tentei colocar um lado pessoal, não só no alcance da letra e da música, mas também no instrumental e musical, que é importantíssimo. Coloquei o que era de se esperar: o inesperado. Misturo Yes, que é um lado bem clássico, bem contrabaixo, com música caipira, que é um lado bem rural, bem peculiar do País. Algo que abrangesse a mente de todos. E também tem muitas músicas em inglês, no sentido de alcançar este tipo de mentalidade e pensamento filosófico. Às vezes a gente se perde em criatividade e vê que o objetivo não é um só, nunca! Ambos funcionam. Queria expor e extravasar minha criatividade musical e poética. Por isso coloquei este lado do inglês também. Sobre as canções de Singin’ Alone “Bomba H Sobre São Paulo” envolve o que fiz para alcançar esta profundidade de letra. Eu subia a pé até a Serra da Cantareira, um caminho longo, mas me interessava por flores, pessoas, automóveis que passavam e também minha mente esvoaçando por entidades, planetas e galáxias longínquas. Naquele dia pensei que estava andando na Cantareira e de lá a gente pode sentir a cidade como uma entidade separada, uma bomba H – alguma coisa iria acontecer. Foi assim que extravasei. “Hoje de Manhã Eu Acordei” envolve outra parte da minha vida pessoal, o lugar onde eu dormia: o quarto, a parede, um pensamento que não é tão tipo estrada, automóveis, galáxias. É mais lençóis, quadros, companhia, pensamentos de comida, exercício etc. A paixão que eu tinha naquele momento às vezes dava certo: “será que é bom demais?” “Jesus Come Back to Earth” é uma outra faceta da minha vida. Estava no apartamento com minha mãe na Avenida Angélica e não me sentia aberto ali, então compus esta música. “Corta Jaca” tem um lado rural. A Suzana Braga, que é filha de portugueses, fez a voz caipira – para ela era difícil falar o português brasileiro, fazer o caipira (rs). Tem um pouco a ver com o interior de São Paulo. Meu avô, o coronel Orácio, já foi prefeito de Avaré e tentei colocar isso em forma de música caipira com rock’n’rolll – fiz este contraste aparecer. Existe um lado entre você e o instrumento, que se traduz no piano, no órgão... Em “Cowboy” tem esta minha parte pessoal com o contrabaixo. Então, pude fazer uma música na qual explico tudo que sinto no instrumento... Jack Bruce. “Sitting on the Road Side” Fui até Catanduva pedindo carona... 400kms de São Paulo... Senti vontade de peregrinação, de não ser levado por nada além de explorar e ver até onde eu aguentava na resistência. É meio hippie. “I Fell in Love One Day” Assim como “Cowboy” tem a ver com contrabaixo, esta tem a ver com teclado, piano. Aqui, consegui no piano uma profundidade maior na letra, porque no contrabaixo é mais música pesada, lenha. Então, falo de estrada, motores. Esta eu já entro bem em filosofia, razões de viver... O lado piano me dava mais liberdade no sentido da emoção. Fala também de minhas procuras, inspirações, pesquisas... Pensei também na mamãe, que tocava piano há anos. Tem esta parte para ela: “me leve até o melhor”... Como se ela pudesse interferir na minha música, pela mediunidade... Minha mãe tinha um universo – horas e horas deitada, pensando no paraíso. Daí ter falado: “não vou esperar pela sua morte”. O lado piano me dava mais liberdade no sentido de emoção. Na guitarra não consigo tanta inspiração de paixão, coração, como no piano. Tem esta presença feminina nas letras... O lado lírico, poético, romântico, esta importância das mulheres na vida das pessoas. Não importa o que você pensa ou o que você é – você tem um só sexo como pessoa. Então, para você dar continuidade a um fator que é importante para a evolução, DNA, precisamos do lado feminino que completa. Na minha poesia, a menina é importante como musa, como platônico... Dá um colorido, um romantismo. “Ciborg” Esta também é uma área que me leva muito adiante na vida, que é a palavra pesquisa, aqui a humana, que é no ciborg. Por exemplo: há milhões de anos o corpo humano usa no ouvido números exponenciais, que não têm nada a ver com matemática. O Homem descobriu este número há 50 anos. Portanto, o corpo humano é tão mais evoluído que nosso alcance científico! Coloquei Ciborg como se fosse a gente tentando fazer máquina da máquina que a gente é... Também tem a ver comigo andando de bicicleta e pensava: se fosse um ciborg teria muito mais força na perna. “Em vão, Ciborg!”. “Coming Through the Waves of Science” - “Não sei por que fiquei tão envolvido, quando poderia apenas tocar”.. Isso é tão profundo! Às vezes mais profundo do que eu. Quando falamos do feminino, pensamos em um estereótipo, que seria a deusa. Então, tem o lado mágico também, maior mediunidade, maior consciência de tudo... Aí eu entro no “Let Spend the Night Together”. “Young Blood” Só tinha um piano em casa nesta época. E acabei fazendo um conjunto de garagem. As pessoas eram mais jovens do que eu, dez anos até, então compus esta música, inspirado nisso, neste sanguinho novo. O entusiasmo deles era muito grande... “Beijo do batom em você, manequim”. Aí a inspiração veio dos desfiles da Rodhia. Via os manequins passarem e ficava sonhando – todas sanguinho novo... Como se você pudesse dizer não ao sistema : “seu coração no sanguinho novo...” “Train” Esta é interessante. Planejei ficar numa de blues, na Cantareira, e entrei nessa e fui para Londres e tomei um ônibus para a Alemanha. Mas na estação coloquei trem. Vira e mexe ouço Jack Bruce, Elton John... falando de trem. “Foi minha escolha estar aqui no meio do blues” “Balada do Louco” Fui até a casa do cunhado da Rita, que tem um piano, e compus uma música inspirada nas diferenças que existiam entre as pessoas. Por exemplo, tem sempre alguém superior à você. Pra falar a verdade, naquela semana tinha levado um chute de uma menina no katarê, que até sangrou meu pé... Então, pensei, foi falta de apoio, etc, mas não era isso: ela era melhor do que eu mesmo... Levei adiante neste sentido com entidades que eu achava maravilhosas, como Alan Delon... Depois mostrei para a Rita, que deu uma sutileza, o lado poético dela também... Esta nova gravação, de 1995, foi surpreendente, porque eu não esperava que ficasse tão bela.. Não contribui muito com o lado musical, mas ficou muito bonito. Adorei! Parece o Elton John com orquestra. |