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1-Gurum Gudum
2-Woody Woodpecker (Everybody Thinks I'm Crazy)
3-LSD
4-To Burn Or Not To Burn
5-Bailarina
6-Deve Ser Amor
7-Nobody Knows
8-Cacilda
9-Imagino
10-Ai Garupa
11-Encantamento
12-Carrossel
13-Tacape


  LET IT BED - (2004) – Produção: John Ulhoa

A idéia de finalmente gravar Let it Bed aconteceu quando John, da banda Pato Fu, foi a Juiz de Fora montar um PC para Arnaldo com vários programas de áudio. John e Rubinho Trol (2) começaram a mostrar ao Arnaldo as possibilidades dessas novas tecnologias, recursos que há alguns anos só eram possíveis em estúdios caríssimos e agora estavam bem à mão, para serem usados em casa mesmo. “Por isso este disco é o encontro de Arnaldo com esta tecnologia”, explicou John. “Uma coisa era importante para nós”, continuou John. “Não queríamos um CD que soasse como um disco moderninho de música eletrônica com samples do Arnaldo. Isso seria fácil fazer. Queríamos que ele registrasse à sua maneira suas novas canções e depois ajudaríamos a dar um acabamento à altura de seu talento”.

John e Rubinho levaram para o sítio equipamento suficiente para um bom home-estúdio. Logo de cara perceberam que Arnaldo queria tocar de tudo e passava muito rapidamente de um instrumento para outro. Por isso decidiram espalhar microfones por todo o estúdio do sítio, deixando tudo ligado o tempo todo para manter o momento criativo sempre em alta.

“Rubinho trouxe seu PC de Londres. Gravamos usando o software Cubase e uma interface M-Audio Delta 44, que nos permitia gravar 4 canais por vez. O que parece pouco, mas o suficiente para este disco, já que Arnaldo iria tocar tudo, um instrumento por vez”, conta John. “A AKG nos emprestou os microfones e headphones, eu levei preamps, mixer, guitarras e outras coisas. Uma curiosidade é a guitarra Pignose com um alto-falante embutido no corpo, que Arnaldo experimentou e acabou usando em algumas gravações”.

John deu algumas instruções básicas para Rubinho, “apenas para ele não cometer nenhuma gafe tecnológica irreparável”. Mas logo ficou claro que o mais importante era o momento, a atmosfera, a tranqüilidade para que Arnaldo pudesse registrar tudo que quisesse, quantas vezes quisesse e na hora que tivesse vontade. “E isso o Rubinho soube conduzir muito bem”.

“Depois de tudo registrado, voltamos para meu estúdio em BH, onde transpusemos as sessões de Cubase/PC para o sistema do meu estúdio que é Logic Audio/Mac. Lá não gravamos mais nada: apenas acrescentei algumas programações e instrumentos virtuais”, explica John. Tudo foi editado e mixado aos poucos no estúdio de John. “Cada vez que Arnaldo vinha à minha casa ouvíamos tudo e ficávamos mais felizes com o resultado”.


 
 

1-Será Que Eu Vou Virar Bolor?
2-Uma Pessôa Só
3-Não Estou Nem Aí
4-Vou Me Afundar Na Lingerie
5-Honky Tonky
6-Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?
7-Desculpe
8-Navegar de Nôvo
9-Te Amo Podes Crer
10-É Fácil

  LÓKI? – ARNALDO BAPTISTA - (Philips, 1974) – Produção: Arnaldo Baptista

Loki, o deus asgardiano da trapaça e da loucura, não teria previsto tal insanidade: em 1974, sozinho com seu piano em seu quarto na Serra da Cantareira, um rapaz de 26 anos, Arnaldo Dias Baptista, que todos supunham desorientado, nutriu a semente de um disco que mudaria para sempre a face da música brasileira.

Loki?, o disco, foi gravado de um fôlego só, sem repetir takes, no Estúdio Eldorado, em São Paulo, em 16 canais. Possui 10 faixas e 33 minutos de duração, não apela a um único riff de guitarra (uma heresia para a época) e emparelha sintetizador com violão, arranjos orquestrais com clavinete e órgão. Sua musicalidade é visionária: há sambalanço, glam, baladas pop à moda britânica, rockabilly norte-americano, MPB, clássico, digressões progressivas. A invenção é a única fronteira do álbum, mas não é um experimentalismo cartesiano, de nerd – Arnaldo arrombou sem cerimônia as portas da percepção.

Loki? abriga desde uma viagem instrumental entre Chopin e Elton John, na composição Honky Tonky, até um certo orientalismo, que escorrega depois para o blues e chega até a MPB tradicional no violão de 12 cordas em É Fácil. Arnaldo é homem-banda se desdobrando em busca do efeito certo, como mostra com o sintetizador Moog em Desculpe e Te Amo, Podes Crer. Quando canta “onde é que está meu rock’n’roll”, ele é puro Jerry Lee Lewis, mas aí emenda um “eu vou voltar pra Cantareiraaaaaa”, que é pura MPB, e anarquiza as referências.

O ex-Mutante teve a lucidez (com apoio de Roberto Menescal, diretor artístico da Philips, que o bancou, e Marco Mazzola, que o produziu) de buscar a ajuda que precisava. O maestro Rogério Duprat, então ex-tropicalista, abominava aquilo em que o rock se tornara: uma fórmula batida de guitarra, baixo e bateria, um rótulo musical, uma limitação da imaginação. Por causa dessa conjuntura, largou tudo e foi viver em uma marcenaria doméstica em Itapecerica da Serra. Ao lapidar duas canções de Arnaldo (Uma Pessoa Só e Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?), teve a sensação de que havia ainda um mundo a descortinar. Era o nosso George Martin.

Este disco é para ser ouvido em alto volume, recomendava Arnaldo. Não precisava da recomendação: o disco era tão importante que vai ressoar eternamente, enquanto seu tempo fica para trás. Havia, desde janeiro daquele ano, um novo general conduzindo com mão de ferro a ditadura militar, Ernesto Geisel. Essa sombra permanente fazia com que toda a arte da época soasse combatente, engajada. Liricamente, Arnaldo elegia sua própria angústia existencial como o universo a ser compreendido, e legou ao futuro uma Bíblia de utopia alternativa. “Ficamos até mesmo todos juntos. Reunidos numa pessoa só”, cantava, em Cê Tá Pensando que eu Sou Loki?
.

O disco de Arnaldo baixou à Terra como uma visão estética e individual, o que o levou a ser comparado a Syd Barrett, do Pink Floyd. Não tinha equivalente entre seus contemporâneos, como ainda não tem. Seu combustível original foi uma desilusão amorosa, como em 90% do pop, mas o resultado é uma iluminação universal.

No resto do mundo, insinuava-se uma promessa de futuro tecnológico brilhante. Naquele ano, o Kraftwerk lançou o clássico Autobahn. A família dos sintetizadores recebia o revolucionário Moog Satellite, que seria muito usado por Vangelis nas trilhas do novo cinema.

Arnaldo Baptista transcendia sua dimensão, vivia num disco voador. Tinha ido ao topo da glória pop com Os Mutantes, mas, recém-saído da banda, continuava olhando muito além. Na foto da capa, com a calça de couro marrom sem camisa, a postura de quem está à espera de algo ou alguém, ele parecia demonstrar que não tinha voracidade pelo futuro, nem reverência pelo passado. Criava sozinho a realidade, apegado aos seus sonhos e às suas visões, e é isso que prevalece em Loki?.

São célebres as confissões de Sean Lennon e Kurt Cobain acerca da influência que Arnaldo Baptista e os Mutantes tiveram em sua música, mas é ainda mais amplo o leque, que vai de Devendra Banhart a Kevin Parker, do Tame Impala. No Brasil, essa influência se estende por gerações, audível em canções de Boogarins e O Terno.

Por isso, o retorno do vinil da obra pela Polysom em maio de 2017 (Universal Music, 180 gramas, arte original, encarte inédito com todas as letras) foi tão simbólico: álbum transcendental, registra as ondas das influências naquele momento de transição – Arnaldo o fez ainda cercado pelos antigos companheiros, como se fizesse uma interseção. Há vocais de apoio de Rita Lee em duas canções (Não Estou Nem Aí e Vou Me Afundar na Lingerie) e os músicos são Liminha (baixo; Sérgio Kaffa toca o baixo apenas em Desculpe) e Dinho (bateria).

Não atire no pianista, diziam os cartazes nos saloons do Velho Oeste. Era peça de difícil reposição. No caso de Arnaldo, um piano foi tudo que ele precisou para fazer um dos discos fundamentais da música brasileira.

(Jotabê Medeiros - sp abril 2017).


 

 

1-I Fell In Love One Day
2-O Sol
3-Bomba H sôbre São Paulo
4-Hoje de Manhã Eu Acordei
5-Jesus Come Back To Earth
6-The Cowboy
7-Sitting On The Road Side
8-Ciborg
9-Corta Jaca
10-Coming Through The Waves Of Science
11-Young Blood
12-Train

 

  SINGIN’ ALONE – ARNALDO – II ÁLBUM – (Baratos Afins, 1982) – Produção: Arnaldo Baptista.

Arnaldo Baptista fala sobre o álbum “Singin’ Alone” - Junho 2013.

Quando fiz este LP, o Singin’ Alone, pensei: o que está faltando na minha carreira? Algo que fosse capaz de abranger tudo que alcanço no universo. Então, optei por um tipo de linguagem, de espectros, de pensamentos, de entidades ... E todos os lugares onde eu ia, tentava colocar em poesia. Ou seja, a personalidade aparece nesta vida diária, em parte das letras, trechos da minha vida naquela época.

Outro aspecto é que toco tudo neste disco: bateria, contrabaixo, teclado, guitarra... Às vezes coloco uma gaita, pandeiro, caixinha de música – one man band.... Em todos os conjuntos que tive até hoje, sempre existiram fatores que eu não concordava: a marca do contrabaixo, muito agudo; o amplificador mal regulado; uma pessoa muito egocêntrica...

Neste disco, portanto, tentei colocar um lado pessoal, não só no alcance da letra e da música, mas também no instrumental e musical, que é importantíssimo. Coloquei o que era de se esperar: o inesperado. Misturo Yes, que é um lado bem clássico, bem contrabaixo, com música caipira, que é um lado bem rural, bem peculiar do País. Algo que abrangesse a mente de todos. E também tem muitas músicas em inglês, no sentido de alcançar este tipo de mentalidade e pensamento filosófico.

Às vezes a gente se perde em criatividade e vê que o objetivo não é um só, nunca! Ambos funcionam. Queria expor e extravasar minha criatividade musical e poética. Por isso coloquei este lado do inglês também.

Sobre as canções de Singin’ Alone

“Bomba H Sobre São Paulo” envolve o que fiz para alcançar esta profundidade de letra. Eu subia a pé até a Serra da Cantareira, um caminho longo, mas me interessava por flores, pessoas, automóveis que passavam e também minha mente esvoaçando por entidades, planetas e galáxias longínquas. Naquele dia pensei que estava andando na Cantareira e de lá a gente pode sentir a cidade como uma entidade separada, uma bomba H – alguma coisa iria acontecer. Foi assim que extravasei.

“Hoje de Manhã Eu Acordei” envolve outra parte da minha vida pessoal, o lugar onde eu dormia: o quarto, a parede, um pensamento que não é tão tipo estrada, automóveis, galáxias. É mais lençóis, quadros, companhia, pensamentos de comida, exercício etc. A paixão que eu tinha naquele momento às vezes dava certo: “será que é bom demais?”

“Jesus Come Back to Earth” é uma outra faceta da minha vida. Estava no apartamento com minha mãe na Avenida Angélica e não me sentia aberto ali, então compus esta música.

“Corta Jaca” tem um lado rural. A Suzana Braga, que é filha de portugueses, fez a voz caipira – para ela era difícil falar o português brasileiro, fazer o caipira (rs). Tem um pouco a ver com o interior de São Paulo. Meu avô, o coronel Orácio, já foi prefeito de Avaré e tentei colocar isso em forma de música caipira com rock’n’rolll – fiz este contraste aparecer.

Existe um lado entre você e o instrumento, que se traduz no piano, no órgão... Em “Cowboy” tem esta minha parte pessoal com o contrabaixo. Então, pude fazer uma música na qual explico tudo que sinto no instrumento... Jack Bruce.

“Sitting on the Road Side” Fui até Catanduva pedindo carona... 400kms de São Paulo... Senti vontade de peregrinação, de não ser levado por nada além de explorar e ver até onde eu aguentava na resistência. É meio hippie.

“I Fell in Love One Day” Assim como “Cowboy” tem a ver com contrabaixo, esta tem a ver com teclado, piano. Aqui, consegui no piano uma profundidade maior na letra, porque no contrabaixo é mais música pesada, lenha. Então, falo de estrada, motores. Esta eu já entro bem em filosofia, razões de viver...

O lado piano me dava mais liberdade no sentido da emoção. Fala também de minhas procuras, inspirações, pesquisas... Pensei também na mamãe, que tocava piano há anos. Tem esta parte para ela: “me leve até o melhor”... Como se ela pudesse interferir na minha música, pela mediunidade... Minha mãe tinha um universo – horas e horas deitada, pensando no paraíso. Daí ter falado: “não vou esperar pela sua morte”. O lado piano me dava mais liberdade no sentido de emoção. Na guitarra não consigo tanta inspiração de paixão, coração, como no piano.

Tem esta presença feminina nas letras... O lado lírico, poético, romântico, esta importância das mulheres na vida das pessoas. Não importa o que você pensa ou o que você é – você tem um só sexo como pessoa. Então, para você dar continuidade a um fator que é importante para a evolução, DNA, precisamos do lado feminino que completa. Na minha poesia, a menina é importante como musa, como platônico... Dá um colorido, um romantismo.

“Ciborg” Esta também é uma área que me leva muito adiante na vida, que é a palavra pesquisa, aqui a humana, que é no ciborg. Por exemplo: há milhões de anos o corpo humano usa no ouvido números exponenciais, que não têm nada a ver com matemática. O Homem descobriu este número há 50 anos. Portanto, o corpo humano é tão mais evoluído que nosso alcance científico! Coloquei Ciborg como se fosse a gente tentando fazer máquina da máquina que a gente é... Também tem a ver comigo andando de bicicleta e pensava: se fosse um ciborg teria muito mais força na perna. “Em vão, Ciborg!”.

“Coming Through the Waves of Science” > “Não sei por que fiquei tão envolvido, quando poderia apenas tocar”.. Isso é tão profundo! Às vezes mais profundo do que eu. Quando falamos do feminino, pensamos em um estereótipo, que seria a deusa. Então, tem o lado mágico também, maior mediunidade, maior consciência de tudo... Aí eu entro no “Let Spend the Night Together”.

“Young Blood” > Só tinha um piano em casa nesta época. E acabei fazendo um conjunto de garagem. As pessoas eram mais jovens do que eu, dez anos até, então compus esta música, inspirado nisso, neste sanguinho novo. O entusiasmo deles era muito grande... “Beijo do batom em você, manequim”. Aí a inspiração veio dos desfiles da Rodhia. Via os manequins passarem e ficava sonhando – todas sanguinho novo... Como se você pudesse dizer não ao sistema : “seu coração no sanguinho novo...”

“Train” > Esta é interessante. Planejei ficar numa de blues, na Cantareira, e entrei nessa e fui para Londres e tomei um ônibus para a Alemanha. Mas na estação coloquei trem. Vira e mexe ouço Jack Bruce, Elton John... falando de trem. “Foi minha escolha estar aqui no meio do blues”

“Balada do Louco” > Fui até a casa do cunhado da Rita, que tem um piano, e compus uma música inspirada nas diferenças que existiam entre as pessoas. Por exemplo, tem sempre alguém superior à você. Pra falar a verdade, naquela semana tinha levado um chute de uma menina no katarê, que até sangrou meu pé... Então, pensei, foi falta de apoio, etc, mas não era isso: ela era melhor do que eu mesmo... Levei adiante neste sentido com entidades que eu achava maravilhosas, como Alan Delon... Depois mostrei para a Rita, que deu uma sutileza, o lado poético dela também... Esta nova gravação, de 1995, foi surpreendente, porque eu não esperava que ficasse tão bela.. Não contribui muito com o lado musical, mas ficou muito bonito. Adorei! Parece o Elton John com orquestra.


 

 

1-Eu
2-Rodas
3-Crazy Ones Ballad
4-Traduções
5-Ovni
6-Maria Lucia
7-Jesus Volte Até aTerra
8-Le foulle Balad
9-I wanna To Take off Every Morning

 

 

 

DISCO VOADOR - ARNALDO (BARATOS AFINS 1987, inédito em CD)

Em 1987, Arnaldo lança sua mais radical experiência. Pela Baratos e Afins sai a gravação caseira – somente para fãs e experts – Disco Voador Arnaldo Paz. Um songbook que capta o artista em seu ambiente, em sua oficina-estúdio. A gravação é tosca, mas traduz da melhor forma possível o mundo musical de Arnaldo, onde estão presentes suas experiências sonoras e sua opção de timbres. Sua voz com vibrato, seus teclados destorcidos. A grande surpresa do álbum são as duas versões de “Balada do Louco” (Arnaldo Baptista & Rita Lee) que Arnaldo faz para o inglês – “Crazy one’s ballad” – e para o francês – “Lê foulle balad”. Outra ótima sacada é a tradução de ”Jesus, come back to earth” para o português “Jesus volte até a terra”. Mais seis canções completam o disco: “Eu”, “Rodas”, “OVNI”, “Maria Lúcia”, “I wanna to take off every morning”, (todas de Arnaldo) e a parceria de Arnaldo & A. Alexandre: “Traduções”.
O Título-capa do álbum é uma verdadeira arnaldice. Jogando com o trocadilho disco (álbum/vinil) e disco-voador, o desenho (de Arnaldo) da capa une as duas imagens e amplia o trocadilho/metáfora: o álbum é um disco (vinil) e um disco-voador raro (o álbum teve edição limitada) e real. No meio do desenho, a palavra PAZ simula o centro do espaço celeste e o furo do vinil que sustenta o disco no prato do toca-disco. Ao girar, gira também o céu e o vinil, revelando onde está o disco-voador e as canções. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).





 
 

1-Sunshine
2-Sexy Sua
3-Corta Jaca
4-Oh Trem
5-Emergindo da Ciência
6-Sentado ao lado da Estrada
7-É Um Pouco Assustador
8-Fique Aqui Comigo

  ELO PERDIDO – ARNALDO & PATRULHA DO ESPAÇO – (Vinil Urbano, 1988, inédito em CD). Produção: Arnaldo & A Patrulha do Espaço

SOLISTA IN SPACE PATROL

Depois do álbum Lóki?, de 1974, e antes do Singin’alone, de 1981, Arnaldo Baptista viveu sua fase hard-rock, ou melhor, sua fase lenha, para usarmos uma expressão sessentista, até hoje do vocabulário de Arnaldo, para designar o ancestral rock pauleira. Nesta viagem no limite máximo, teve por companhia o grupo Patrulha do Espaço.
A viagem lenha começa em 1975, quando Arnaldo estrutura seu novo projeto, o grupo Space Patrol, inicialmente com o baterista Zé Brasil; e, depois, com sua primeira formação definida, com Rufino e Dudu, nas guitarras; Cenoura, no contrabaixo; e Arnaldo, na bateria com dois chimbaus, um de cada lado. Apenas ensaios caseiros, com pequenos amplificadores e a companhia de uma televisão ligada, sem som.
Em 1977, o grupo passa a se chamar Arnaldo & A Patrulha do Espaço, continuando seus ensaios, já com a seguinte formação: John Flavin, na guitarra; Osvaldo Gennari “Cokinho”, no contrabaixo; Rolando Castello Júnior, na bateria; e Arnaldo, no piano e voz. No final do ano, o grupo grava, no Estúdio Vice-Versa, com apoio irrestrito do maestro Rogério Duprat, treze músicas, em dois dias. O material, se adquirido por alguma gravadora, teria uma mixagem definitiva. Sem interesse de gravadora, o disco só veio á cena, mesmo assim parcialmente e a partir de uma rough mix, extraída de uma cópia de dois canais, onze anos depois, em 1988, com o título de Elo Perdido.
Deste período, se revelam doze canções, sendo que sete delas, Arnaldo regravaria no Singin’ Alone, ou na versão original ou vertida para o inglês/português, com sutis, mas fundantes, modificações em seu texto.
Elo Perdido repete do Singin’ Alone: O Sol, com o título de Sunshine; Corta Jaca; Oh Trem/Train; Emergindo da Ciência/ Coming Through the Waves of Science; e Sentado ao lado da estrada/Sitting on the road side.*
De inéditas, temos: Sexy Sua, canção de amor e sexo composta para a ex-namorada Martha Mellinger, com seu título/refrão trocadilhescos – sua: verbo? Pronome? -, pode ser resumida como um culto/exercício prático da libido.
É um pouco assustador I, exercita segundo Arnaldo, o jogo reativo de encontros telepáticos. Onde, quem participa do encontro se assusta e se auto conhece.
E Fique Aqui Comigo, Arnaldo trava um diálogo com uma visitante desconhecida, que seria. Ao mesmo tempo, parceira e platéia de um show-conversa mental. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).
*Conforme informação de Arnaldo Baptista, o nome correto da música Raio de Sol é: Sentado ao Lado da Estrada.

 

 

1-Emergindo da Ciência
2-É Um Pouco Assustador II
3-Arnaldo Soliszta
4-I Feel In Love One Day
5-Cowboy
6-Hoje de Manhã Eu Acordei

 

  FAREMOS UMA NOITADA EXCELENTE - ARNALDO & PATRULHA DO ESPAÇO – (Vinil Urbano, 1988, inédito em cd). Ao Vivo. Produção: Roberto Takaharu Oka.

Em maio de 1978, já com mais um guitarrista, Eduardo Chermont, o grupo se apresenta no Teatro São Pedro, em São Paulo – SP. Da noite sairia uma gravação amadora, lançada, em 1988, no álbum Faremos Uma Noitada Excelente...
O disco traz as já conhecidas: Emergindo da Ciência, É Um Pouco Assustador II, I Fell in Love One Day, Cowboy e Hoje de Manhã Eu Acordei, de inédita somente a instrumental Arnaldo Soliszta, improviso ao piano, à maneira de Hermeto Pascoal. O título foi dado, posteriormente, por Rolando Castello Júnior e abarca as várias capacidades e saberes de Arnaldo: pianista, solista, fã do compositor húngaro Franz Liszt (1811-1886) e, obviamente, solista, amante do sol, leia-se, sunshine/LSD.
Nestes dois falsos rascunhos, na verdade songbooks de sobrevivência e luta, Arnaldo escreve, em forma de mosaico, sua revolucionária obra, entre a louca-lucidez que envolve projetos de diálogos e interlocuções, entre palco e platéia, passado e futuro, vida e arte, ciência e sonho, revelando que há sempre algo que falta, algo que ficou irremediavelmente perdido, e que, a cada descoberta, percebemos que é a incompletude que nos completa. A obra solo de Arnaldo é isto, lacunas e elos perdidos que se completam permanentemente.
Assim, que tenhamos novos e bons ouvidos e sejamos bem-vindos ao Jardim do Sonho e da nova Ciência desta eterna nova música chamada: Arnaldo Dias Baptista. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).

 

 

1- Ai Garupa
2- Tacape
3- Te Amo Podes Crer
4- Concerto de Bradenburgo
5- Sentado ao Lado da Estrada
6- Ovelha Negra
7- O A e o Z
8- Marcha Turca
9- Don’t Think Twice, It is All Right
10- É Fácil
11- Cry Me a River
12- Take It to the Limit
13- Emergindo da Ciência
14- Ciborg
15- Honky Tonky Woman

 

  Shining Alone – Ao Vivo – TUCA SP – gravado em 14 de fevereiro de 1981, lançado em 2013 no ambiente digital.

Texto: Lulina
Capa: Thais Rebello
Foto capa/show: Martha Mellinger

Shining Alone tem o poder de nos levar ao ano de 1981, a uma das cadeiras do TUCA, teatro onde aconteceu esse registro histórico, e até então inédito, da apresentação solo de Arnaldo Baptista.

Da cadeira onde estou sentada, consigo ver o roadie consertando o "rombo" do violão, comentado por Arnaldo na faixa 6. Sou abraçada pela doçura do seu bate-papo com a plateia, de onde puxo ar para mergulhar de novo na profundidade das canções que transbordam, até nos momentos alegres, melancolia e solidão, presentes na própria estética do espetáculo: Arnaldo na companhia apenas de uma guitarra, um piano e um órgão Hammond que é "coisa de americano, mas funciona, né?".

Se nas gravações de estúdio a emoção já guiava a produção, em um registro ao vivo essa espontaneidade fica ainda mais forte e tocante. No repertório, seus clássicos se misturam a versões de Bach e Mozart, Bob Dylan e Rolling Stones, quebrando barreiras de gênero musical e conceitos estéticos. Graças a Luiz Calanca, que gravou o show em condições precárias na época, agora, mais uma barreira é quebrada: a do tempo.

O registro traz, ainda, as pérolas inéditas “Ai Garupa” e “Tacape”.


 

 


1-Panis Et Circenses
2-A Minha Menina
3-O Relógio
4-Maria Fulô
5-Baby
6-Senhor F
7-Bat Macumba
8-Le Premier Bonheur Du Jour
9-Trem Fantasma
10-Tempo No Tempo
11-Ave Gengis Khan

 

  MUTANTES (Polydor, 1968) - Produção: Manoel Barenbein

Primeiro álbum do grupo. É o disco tropicalista da banda. Espécie de carta de princípio, reúne, em suas 11 faixas, um pouco das propostas e possibilidades futuras. Com arranjos de Rogério Duprat e as participações de Jorge Ben no violão e voz, e do baterista Dirceu, o faz um mixer das propostas "fundamentalistas" da Tropicália - Panis et Circenses, Bat macumba e Baby - com a irreverência anárquica dos Mutantes. Fazendo de todos os absurdos, todas as incosequências: possibilidades - confrontar o principal parceiro de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira (Adeus Maria Fulô) com a existencialista-pop Françoise Hardy (Le Premier Bonheur du Jour); misturar Jorge Ben (A Minha Menina), com uma versão (não creditada, do pai César Dias Baptista) de uma semi-conhecida canção do grupo norte-americano The Mamas and The Papas (Tempo no Tempo / Once There was a Time i Thought) a uivos pré-históricos em homenagem a Gengis Khan (Ave Gengis Khan) e uma paródia kafkaniana (Senhor F). Completam o álbum: O Relógio e Trem Fantasma. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).


 
 

1-Dom Quixote
2-Não Vá Se Perder Por Aí
3-Dia 36
4-2.001
5-Algo Mais
6-Fuga Nº II Dos Mutantes
7-Banho de Lua
8-Ritta Lee
9-Mágica
10-Qualquer Bobagem
11-Caminhante Noturno

 

 

 

  MUTANTES (Polydor, 1969) - Produção: Manoel Barenbein

Depois da estréia em 1968, o Mutantes, agora sem o artigo Os, lança, em 1969, o primeiro álbum dentro da verdadeira estética mutantropicalista. O álbum de 69 é o mais experimental do grupo. Não há nehum limite. Tudo - literalmente - tudo é possível. Tudo é funcional em sua estranheza. Da capa - com o trio simulando Dom Quixote - Sancho Pancha e Dulcinéia noiva - a audácia das audácias: gravar um jingle, da Shell, em um disco (Algo Mais); para o universo pop, o grupo constrói seus dois maiores hits (Fuga nº 2 e Caminhante Noturno); regrava Celly Campello (Banho de Lua); incorpora recursos paranomásicos da poesia concreta, com o auxílio do "pai" César Dias Baptista, em Dom Quixote; dialoga magistralmente com a tropicália enviesada de Tom Zé, em 2001 e Qualquer Bobagem; grava iê-iê-iê (Não vá se perder por aí) e psicodelia (Dia 36, parceria como o hippie performático Johnny Dandurand) e por fim, faz, talvez a primeira, meta-canção da MPB, isto é, uma canção falando sobre a própria cantora (Rita Lee). O álbum de 69 traz - ainda de que forma implícita - a participação dos outros dois mutantes: o baterista Dinho (Ronaldo Leme) e o contrabaixista (que no disco tocou viola) Liminha. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).

 
 

1-Ando Meio Desligado
2-Quem Tem Mêdo de Brincar de Amor
3-Ave Lúcifer
4-Desculpe Babe
5-Meu Refrigerador Não Funciona
6-Hey Boy
7-Preciso Urgentemente Encontrar Um Amigo
8-Chão de Estrêlas
9-Jôgo de Calçada
10-Haleluia
11-Oh! Mulher Infiel

 

 

  A DIVINA COMÉDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO (Polydor, 1970) - Produção: Arnaldo Sacomani

Depois de reler o Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, o Mutantes parte rumo ao inferno da Divina Comédia e reconstrói o poeta italiano Dante Alighieri em versão pop-psicodélica. Se o álbum anterior foi experimental, este de 70 é - no sentido mais amplo - revolucionário. Nunca, na história da música brasileira, um grupo/artista foi tão longe em radicalidade. A Divina Comédia dos Mutantes jogou por terra todas as divisões e segmentações musicais. pop - experiência - vanguarda - cafonice - rigor - informalidade - rock, tudo se fundiu. Roberto Carlos & Erasmo Carlos (Preciso Urgentemente Encontrar um Amigo) com Sílvio caldas & Orestes Barbosa (Chão de Estrelas - o melhor arranjo - de Rogério Duprat - já realizou na MPB) bate cabeça com Dante (Ave Lúcifer e Oh! Mulher Infiel. Ao quinteto - Arnaldo - Dinho - Liminha - Rita & Sérgio), se juntam, em participações mais do que especiais: raphael Vilardi, violão e voz; e o percussionista Naná Vasconcelos. Nos arranjos, o tom magistral de Duprat. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).


 
 

1-Top Top
2-Benvinda
3-Tecnicolor
4-El Justiciero
5-It’s Very Nice Pra Xuxu
6-Portugal de Navio
7-Virgínia
8-Jardim Elétrico
9-Lady, Lady
10-Saravá
11-Baby

  JARDIM ELÉTRICO (Polydor, 1971) - Produção: Arnaldo Baptista

Depois de três álbuns - um tropicalista, um experimental e um revolucionário - , o Mutantes lança o seu disco mais estranho. O jardim Elétrico é, sonoramente, bem proxímo da fotografia da contracapa. O quinteto zoando em um estúdio, entre parafernálias elétricas, instrumentos acústicos e alguns estimulantes. Basta notar que pela primeira e única vez, sempre que Rita lee e Sérgio Dias participam como compositores de uma música, é esta a sequência dos nomes, o que, à la Lucy in the Sky with Diamonds, dá para ler L (Lee) S (Sérgio) D (Dias). Disco de zoeira. Traz outro hit do grupo Top Top, um hard rock infernal Jardim Elétrico; uma doce versão (para o inglês) de Baby e uma paródia - homenagem a Tim Maia, Bemvinda. Completando o álbum: Tecnicolor, El Justiceiro; It's Very Nice pra Xuxu; Virgínia; Lady, Lady; Batmacumba e Saravá. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).

 
 

1-Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe,
Desde Que Eu Tenha O Meu Rock and Roll

2-Vida De Cachorro
3-Dune Buggy
4-Cantor de Mambo
5-Beijo Exagerado
6-Balada do Louco
7-A Hora e a Vêz do Cabelo Nascer
8-Rua Augusta
9-Mutantes e Seus Cometas No País do Baurets
10-Todo Mundo Pastou II

 

 

  MUTANTES E SEUS COMETAS NO PAÍS DO BAURETS (Polydor, 1972) - Produção: Arnaldo Baptista

1972 é o primeiro ano (chave) do resto da vida do Mutantes. Com o Baurets, Rita Lee dá adeus ao grupo. Mas antes, se une Arnaldo - Dinho - Liminha & Sérgio no álbum mais rock'n'roll. De Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha meu rock'n'roll até Rua Augusta, o disco é uma pauleira (ou lenha, como gosta de nomear Arnaldo Baptista) do começo ao fim. E dá-lhe rock and roll em Dune Buggy, Beijo Exagerado e A Hora e a vez do Cabelo Nascer (esta magistralmente regravada pelo Sepultura. Em contraponto, as suavidades ácidas de Vida de Cachorro e o hit dos hits do grupo Balada do Louco. No setor lisergia, a ópera-surrealista-progressiva de Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, que inclui uma releitura de Tempo no Tempo / I Once There was a Time i Thought, do primeiro disco; e a vinheta dadísta Todo Mundo Pastou I e II. Ainda sobre o Baurets, resta dizer que o título do álbum e a canção homônima relêem mais um pilar da literatura mundial, o inglês Lewis carroll, e seu Alice no País das Maravilhas. É, obviamnte, o senhor Bill Halley e seu topete chuca e seus comets. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999)

 
 

1-A e o Z
2-Rolling Stones
3-Você Sabe
4-Hey Joe
5-Uma Pessôa Só
6-Ainda Vou Transar ComVocê

 

  O A E O Z (Philips, 1992; gravado em 1973) - Produção: Mutantes

Com a saída de Rita Lee, o quarteto - Arnaldo - Dinho - liminha e Sérgio - ainda grava, em 1973, um novo disco, que fica inédito até 1992. O A e o Z é a exacerbação da ópera-surrealista-progressiva Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, do disco anterior. As seis faixas do álbum, embora independentes uma das outras, compões uma longa trilha sonora para um filme à la Zabriskie point, de Antonioni. Viagem. Trip. Good Trip. Da autobiográfica (de Arnaldo) Rolling Stones a Uma Pessoa Só (depois regravada por Arnaldo em seu 1º álbum solo Lóki?, de 1973), o álbum - sintomaticamente chamdo de O A e o Z - é o clique final na maravilhosa história do grupo Mutantes. Algum tempo depois, Arnaldo deixa o grupo e Dinho - Liminha e Sérgio seguem com o projeto (ou novo projeto) Mutantes, mas aí ja é outra história, outra mutação, outro coração, outra trip. (Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).


 
 

1-Panis Et Circenses
2-Bat Macumba
3-Virginia
4-She’s My Shoo Shoo ( A Minha Menina)
5-I Feel A Little spaced Out (ando Meio Desligado)
6-Baby
7-Tecnicolor
8-El Justiciero
9-I’m Sorry Baby (Desculpe Babe)
10-Maria Fulô
11-Le Premier Bonheur Du Jour
12-Saravah
13-Panis Et Circenses (reprise)

 

TECNICOLOR (Universal, gravado em1970 e lançado em 1999) - Produção: Carl Holmes


"Tecnicolor" – a penúltima última viagem dos Mutantes

Existem coletâneas e coletâneas de sucesso. Na maioria das vezes, são sofríveis. Acompanham o bel-prazer – ou desprazer – das gravadoras. Quase sempre, com a pretensão de atualizar a obra do artista a onda do momento. Se o período é de romantismo, a coletânea deve trazer as canções mais melosas do artista. Poucos artistas têm suas obras bem administradas. Beatles; Madonna; Prince. Roberto Carlos; Marisa Monte; Paralamas do Sucesso.
Os contratos de cessão de direitos fonográficos ainda continuam na idade da pedra. Para as gravadoras, tudo – ou quase tudo. O que já é muito. Para os artistas, a possibilidade de fama, riqueza e glória. Como o risco é grande e com a incerteza não se deve brincar, geralmente, um lado (as gravadoras) ganha e o outro (os artistas) perde.
O mais absurdo dessa situação é a falta de gerência do artista sobre sua própria obra. Isso acontece no universo (da música pop) que mais lucro produz. Na literatura, no cinema, nas artes plásticas, esse desmando é raramente aceito.
Assim, a grande vingança desse "dono que nada possui" é quando ele administra sua coletânea como um lançamento, não como uma colcha de farrapos de retalho para encher mais o cofre das gravadoras.
Sem dúvida, a primeira grande obra dentro desse formato foi a gravação do álbum "Tecnicolor" dos Mutantes, em 1970. Era, ao mesmo tempo, uma brincadeira e um passo à frente, uma coletânea e um álbum de carreira. Pois dava nova roupagem para canções já lançadas pelo grupo. Novas roupagens realmente. Não uma gravaçãozinha com um adereço a mais.
O grupo, em sua proposta de "revolução permanente", no terceiro ano de sua carreira fonográfica (a estréia se deu em 1968 com o álbum "Os Mutantes"), sem medo e sem pudor, revirou e reviu as entranhas de sua história.
Segundo Carlos Calado, "Tecnicolor" é um "título virtual", provavelmente bem posterior. O álbum foi gravado em Paris, em novembro de 1970, no Des Dames Studio. Sob a produção de Carl Holmes.
O álbum, para seguirmos um conceito da época, faz uma coletânea de versões na melhor acepção do Poema/Processo. Isto é, versões a partir de obras primeiras que se transformam em novas obras. É uma espécie de "Abbey Road" (penúltimo disco dos Beatles) às avessas. Esse disco do "Fab Four" foi gravado depois do último ("Let It be") e foi lançado antes. Esse dos Mutantes foi gravado antes do "último" ("Mutantes & Seus Cometas no País dos Baurets") e só lançado duas décadas depois.
O disco é uma antologia especial. Pois reúne repertório recente, do álbum "Jardim Elétrico", do ano: "Virgínia"; "Tecnicolor"; "El justiciero" e "Saravah", com sucessos anteriores. Os "hits" tropicalistas: "Panis et circences" (em duas versões); "Bat macumba"; "She’s my Shoo Shoo" (isto é, a jorgeben-tropicalista "A minha menina") e "Baby", a canção mais regravada pelos Mutantes (três versões); os clássicos "I feel a little spaced out" ("Ando meio desligado"); "Adeus Maria Fulô" e "I’m sorry" ("Desculpe, babe"); e o tributo aos anfitriões franceses, uma regravação de "Le premier bonheur du jour", já gravada no primeiro álbum do grupo.
O efeito-Mutantes da empreitada é que o grupo, não se fazendo de rogado, traduziu quase todas as letras para o inglês. Exceto, obviamente, a concretista e intraduzível "Bat macumba", a brejeira "Adeus Maria Fulô" e a canção francesa. "She’s my Shoo Shoo" ficou mais Jorge Ben ainda. O refrão original, em português, só aparece como coda.
"Tecnicolor" foi lançado em 2000. Além da surpresa pela modernidade sonora, trouxe ilustrações e textos manuscritos assinados por Sean Ono Lennon. Isso mesmo, o filho "inteligente" de Yoko Ono e John Lennon. Que, reza a lenda, disse julgar mais revolucionário o grupo brasileiro do que o olímpico grupo do pai. A colaboração estrangeira foi vista como algum incomodo. Pois, como sempre, a crítica especializada brasileira achou que Sean não era a pessoa mais indicada para conceber a capa. Bobagem, "fosse um dia de sol", como diria Oswald de Andrade, o preconceito tupiniquim entenderia que esse gesto foi mais uma confirmação de que nosso "Astronauta Libertado", a cada dia que passa, por mérito, é mais entronizado no Panteão do pop-rock mundial. E que se aprenda de uma vez, parafraseando, Tom Jobim, Os Mutantes, assim como o Brasil, não é uma coisa para amadores.
(Marcelo Dolabela - bhz out/nov 2005).


 

 


CD I
01 - Don Quixote
02 - Caminhante Noturno
03 - Ave Gengis Khan
04 - Tecnicolor
05 - Virginia
06 - Cantor de Mambo
07 - El Justiciero
08 - Baby
09 - I'm Sorry Baby
10 - Top Top
11 - Dia 36

CD II
01 - Fuga nº II
02 - Le Premier Bonheur du Jour
03 - Dois Mil e Um
04 - Ave Lucifer
05 - Balada do Louco
06 - I Feel a Little Spaced Out
07 - A Hora e a Vez do Cabelo Nascer
08 - A Minha Menina
09 - Bat Macumba
10 - Panis et Circensces


 

MUTANTES AO VIVO - BARBICAN THEATRE - LONDRES
(Sony & BMG, 2006) - Produção: Sérgio Dias.


A volta do Mutantismo


O Rock and Roll já é um senhor de mais de 50 anos. Enfim, o tempo lhe permitiu começar a acertar uma dívida histórica. Isto é, uma dívida futura: “como entender, assimilar e conviver com seu passado?”. Como viver e entender o “sofrer”, como cantou Tom Zé, “de juventude”?
O escritor Rubem Braga, falando sobre a crônica jornalística, comentou: “A verdade não é o tempo que passa, a verdade é o instante”. Se o Rock é volátil, um gás, como cantou Jimi Hendrix, como viver a eternidade do instante? Como viver esse único tempo?
B. B. King completa, este ano, 83 anos. Para os fãs do Blues, ele não está velho. João Gilberto está com 76 anos. E ainda é o grande nome da Bossa Nova.
O Rock, enfim, começa a entender o jogo dialético entre “tempo” e “instante”, entre o que já está inscrito na história e o que ainda esgarça, com inventividade, a história.
A volta dos Mutantes vem, em boa hora, saldar essa dívida e responder, de vez, a questão: “se o grupo foi e é o exemplo mais perfeito da revolução do rock brasileiro e um dos maiores nomes do rock internacional, por que encapsular sua trajetória em apenas cinco anos (1968-1972) de produção fonográfica?
O acervo do Beatles, vez ou outra, é bem revisitado por Paul McCartney e George Martin. Por que não permitir que a revolução-Mutantes continue?
Tirando o fogo amigo (as críticas de Rita Lee e a recusa de Liminha), quando foi anunciada a volta do grupo, as expectativas foram as mais diversas, da dúvida ao medo, de alívio ao “até que enfim”.
Mas o que poderíamos esperar dessa volta? Como o núcleo Arnaldo Baptista – Sérgio Dias & Dinho se comportaria “quimicamente” trinta e cinco anos depois? Quem e como substituir a voz emblemática de Rita Lee? De que instrumental e de quais arranjos vestir “clássicos” que trazem o grupo em seu apogeu sob a maquinaria sonora do maestro Rogério Duprat?
A resposta foi sábia. O grupo ressurgiu no “exílio”, longe das expectativas e das ansiedades, em um evento em Londres que comemorava a Tropicália para além dos muros musicais, a mostra/exposição “Tropicália – a revolution in brazilian culture”. Que fez um mapeamento amplo do movimento: música + poesia + artes plásticas + cinema + teatro + arquitetura + dança + política + teoria + história. Com um show no The Barbican Center, em Londres, Inglaterra, em maio de 2006.
O material-show/disco, lançado agora em CD/DVD, é impecável. O grupo, sob a batuta de Sérgio e a criatividade de Arnaldo, conseguiu unir o mais experimental da Tropicália aos melhores elementos da psicodelia, de ontem, hoje e sempre.

Hoje o grupo tem dez integrantes: os oficiais: Arnaldo Baptista, teclados e voz; Sérgio Dias, guitarra e voz; Dinho Leme, bateria; mais a voz, em participação mais do que especial, de Zélia Duncan, uma mutante por natureza; os backing vocals de Fabio Recco e Esmérya Bulgari; os teclados de Vitor Trida e Henrique Peters; o contrabaixo de Vinicius Junqueira; e a percussão de Simone Soul
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O repertório é um “the best”. Há música dos cinco álbuns, da fase heróica, do grupo. Do primeiro disco, “Os Mutantes”, de 1968: “Panis et circencis”; “Minha menina”; “Bat macumba”; “Le premier bonheur du jour” e “Ave Gengis Khan”. Do álbum “Mutantes”, de 1969, “Dom Quixote”; “Dia 36”; “Fuga n.2” e “Caminhante noturno”. Do “A divina comédia ou ando meio desligado”, de 1970, “Ando meio desligado”; “Ave Lúcifer” e “Desculpe, babe”. Do “Jardim elétrico”, de 1971, “Top top”; “Technicolor”; “El justiciero” e “Virgínia”. E do “Mutantes & Seus Cometas No País do Baurets”, de 1972, “Cantor de mambo”; “Balado do louco” e “A hora e a vez do cabelo crescer”.
Sérgio Dias está em uma forma impressionante. Zélia Duncan, mesmo participando pouco, mostra que a escolha foi acertada. Arnaldo aparece com suas tiradas surreais e seu vocal característico. Dinho continua preciso e fundamental. Os demais músicos assumem, com louvor, a função de co-participantes.

A caixa – com dois CDs e um DVD –, lançada pela Sony & BMG, mostra na íntegra o show de Londres. CDs e DVD trazem a mesma seqüência, como em um jogo de mise-en-abyme, de bonecas russas, dentro da maior, outra e outra e outra...
Começa com a poesia concreta (à maneira mutantista) de “Don Quixote”, com suas aliterações e paronomásias, e termina com a crueldade tropicalista de “Panis et circensis”, de Gilberto Gil & Caetano Veloso. Ao longo do show, o tempo vai e volta. Pára e retorna. Como coisa móvel, flexível, sem cronologia. Como se o grupo, na verdade, em seu período áureo (68-72), tivesse lançado um longo álbum quíntuplo. As canções embaralhadas mostram melhor a planta baixa o plano-piloto do estilo-Mutantes.
Provando, mais uma vez, que o grupo não é apenas um nome na plêiade-Rock. Mas um “modo de fazer”, um estilo, um subgênero, para usarmos uma terminologia de Roy Shuker (“Vocabulário da música pop”), dentro do próprio Rock: o Mutantismo.
O que explica a admiração de artistas tão diferentes em relação à obra do grupo. De David Byrne a Kurt “Nirvana” Cobain. Passando por Beck, Sean Lennon, Beastie Boys, Pizzicato Five e Belle & Sebastian.

Afinal, o que foi apresentado nessa “reestréia” é apenas um pequeno – mas significativo – extrato do “baú dos Mutantes”, ainda há material para pelo menos dois novos lançamentos.
O que virá, ainda não sabemos. Mas, com certeza, é mais combustível (não-poluente).
Provando que, ainda vale a pena continuar com e na revolução-Mutantes.
(Marcelo Dolabela - bhz julho/2007).


 

 

1-Sucesso, Aqui Vou Eu
2-Calma
3-Viagem ao Fundo de Mim
4-Precisamos de Irmãos
5-Macarrão Com Linguiça e Pimentão
6-José
7-Hulla-Hulla
8-And I Love Her
9-Tempo Nublado
10-Prisioneira do Amor
11-Eu Vou Me Salvar

  BUILD UP - RITA LEE (Polydor - 1970) - Direção Musical: Arnaldo Baptista

A música pop se funda na relação entre novidade e redundância. Nesse jogo dialético, podemos medir o grau de importância de um artista e de uma obra.
Os LPs “Build up” e “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”, primeiros álbuns solos de Rita Lee, lançados, respectivamente, em 1970 e 1972, só podem ser lidos se bem entendida essa relação.
São praticamente inclassificáveis. São obras solos e, ao mesmo tempo, “codas” e complementos da discografia oficial/não-oficial dos Mutantes.
Nesses dois momentos, Rita Lee, ainda, era membro efetivo dos Mutantes. Mas, mesmo assim, se lançou na empreitada de projeto solo.
Atitude, relativamente, normal e salutar. Principalmente se entendermos essa opção como oxigênio para a trajetória de um grupo.
No Brasil, Mingo, dos grupos The Clevers/Os Incríveis, foi o primeiro artista a caminhar por essa vereda.
Porém, o que surpreende nos dois LPs de Rita Lee é que não foi respeitada a regra básica: “seguir um rumo (individual) diferente das propostas do grupo”. Afinal, para fazer “do mesmo”, é melhor fazer “o mesmo”. Isto é, mais um disco do grupo. A partir da década de 1980, essa prática se tornou comum: os titãs Sérgio Brito e Paulo Miklos; Edgar Scandurra e Nazi, do Ira!; Herbert Vianna, do Paralamas do Sucesso; Frejat, do Barão Vermelho; Paula Toller e George Israel, do Kid Abelha. Todos realizaram discos-solos com traços para além dos muros da discografia do grupo.
Com Rita Lee, nessas ocasiões, foi diferente. Foi “o mesmo” inovador. Ou “uma inovação” sobre o mesmo tema. Trocando o nome na capa e no selo do disco – Rita Lee por Mutantes, ninguém perceberia que estivesse ouvindo um álbum solo. Mas como essa troca não foi realizada, estamos diante de dois álbuns exclusivos de Rita Lee. E que só existiriam da forma que foram lançados, como discos solos. Estão, em uma avaliação, mais detalhada, quilômetros de distância da discografia dos Mutantes. Principalmente, se compararmos “Build up” com a hiper-experimentação tropicalista de “A Divina Comédia ou ando meio desligado” e “Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida” com a lisergia psicodélica de “Mutantes e seus cometas no País dos Bauretz”, lançados nos mesmos períodos. Dois personagens à procura de um autor? Um personagem se multiplicado em dois autores?
A planta baixa dos dois discos solos são relativamente semelhantes:
(1) composições do núcleo básico – Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias + Liminha;
(2) arranjos de Arnaldo; e
(3) acompanhamento dos Mutantes.
“Build up” serviu de base para o espetáculo “Bulid up eletronic fashion show”, da Rhodia, na Fenit (Feira Nacional da Indústria Têxtil), em agosto daquele ano, que narrava a trajetória e os (des)caminhos de uma artista (Rita Lee) rumo aos estrelato.
Das canções do disco, temos da dupla Rita & Arnaldo: “Sucesso, aqui vou eu (Build up)” e “Macarrão com lingüiça e pimentão”; de Rita e Elicio Decário – que, na época, colaborou com “A Divina Comédia” com “Ave Lúcifer”, parceria com Rita & Arnaldo; e “Hey boy”, com Arnaldo: “Hulla-hulla” –: “Tempo nublado” e “Eu vou me salvar”; de Decário solo: “Precisamos de irmãos” e “Prisioneira do amor”; de Arnaldo: “Calma”; a primeira composição assinada apenas por Rita: “Viagem ao fundo de mim”; e “José (Joseph)”, versão da parceira de tropicalismo Nara Leão de uma composição de Georges Moustaki; e o bolero-beatle “And I love her (And I love him)”.
A faixa-título é a canção-roteiro. Embora o título “Build up” estabeleça a idéia de “construção pública de uma imagem”, o álbum, na verdade, se compõe de canções que sugerem “a construção individual e íntima de Rita Lee”, uma avassaladora “viagem”, como sinaliza uma das canções, “ao fundo de mim”. Tirando o nonsense da letra-receita de “Macarrão com lingüiça e pimentão” e o lirismo de “José”, todas as outras letras são expressamente registradas na primeira pessoa do singular (EU), com pequenas variações para o plural (NÓS) ou desdobramento do EU + VOCÊ:
“Já estou até vendo / meu nome brilhando / E o mundo aplaudindo / Ao me ver cantar / Ao me ver dançar / I wanna be a star... / Eu direi adeus / Aos sonhos meus / Sucesso, aqui vou eu... / Eu vou lutar / Eu vou subir e conseguir...”; “Calma, calma / Sinto, mas tudo que eu quero / É só fugir de você...”; “... Em câmara lenta voar / Eu sinto você me amar...”; “Eu preciso de canções e amigos / De amor, de flores, de abrigo...”; “Estou indo para uma ilha...”; “Onde estará você, meu amor? / Onde estará você?...” e “Eu vou me salvar / Eu vou me salvar / Para garantir a minha vida eterna...”. (Marcelo Dolabela - bhz jul/agosto 2005).


 
 

1-Vamos Tratar da Saúde
2-Beija-me Amor
3-Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida
4-Teimosia
5-Frique Comigo
6-Amor Branco e Preto
7-Toroleite
8-Tapupukitipa
9-De Novo Aqui Meu Bom José
10-Superfície do Planeta

 

 

  HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DE SUA VIDA (Polydor - 1972) - Direção de Produção: Arnaldo Baptista.

Dois anos após “Build up”, Rita Lee lança seu segundo álbum solo. A situação já é bem diferente. Se antes, Rita ainda era uma efetiva mutante; agora, a opção do grupo pelo rock progressivo (leia-se: influência do grupo Yes), praticamente jogava a artista para fora do Planeta dos Bauretz. Seu segundo disco é uma despedida e, ao mesmo tempo, o álbum mais Mutantes de todos os trabalhos do grupo. Nenhum dos seis álbuns da primeira fase do grupo – 1968-1972 – foi composto exclusivamente pelos integrantes, todos tiveram colaborações externas. O “Hoje é...”, não. Todas as faixas foram compostas pelo núcleo Arnaldo-Rita & Sérgio + Liminha: “Vamos tratar da saúde”; “Beija-me, amor”; “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”; “Teimosa”; “Frique comigo”; “Amor branco e preto”; “Tiroleite”; “Tapupukitipa”; “De novo aqui, meu bom José?” (resposta irônica a lírica “José (Joseph)”, do “Build up”); “Superfície do planeta”. A censura retalhou algumas letras que, de ácidas, se transformaram em líricas. Em “Beija-me, amor”, ouvimos: “Para que eu sinta o seu gosto / Mesclado com o gosto de amor / “Mastigado entre os dentes meus...”. Mas, na verdade, o texto original dizia: “Para que eu sinta a saliva / E o gosto de cuspe / Escorrendo entre os dentes meus...”, (cf.: Carlos Calado: “A Divina Comédia dos Mutantes”, pág.285).
O único furo (novidade) no bloqueio-Mutantes é a (estréia) participação da cantora, compositora e instrumentista Lucia Turnbull, nos vocais. Futura parceira de Rita no projeto pós-Mutantes Cilibrinas do Éden, em 1973. Dupla que serviria de base, no ano seguinte, para o grupo Tutti Frutti, com a entrada do guitarrista Luiz Sérgio e do contrabaixista Lee Marcucci. Álbum de estréia: “Atrás do porto tem uma cidade”.
Embora contemporâneo do LP “Mutantes e seus cometas no País dos Bauretz”, “Hoje é...” é um volta e/ou um símile do primeiro disco do grupo – “Os Mutantes –, de 1968. Uma audição (e uma visão) atenta de ambos mostra a estranha e estrondosa semelhança. A começar pelas capas: o álbum de 1968 traz, na contracapa, um pequeno desenho do grupo feito por Rita; no álbum solo, a capa traz um auto-retrato de Rita, a simplicidade gráfica esconde para revelar um dos elementos básicos da estética do grupo: o humor. O que, infelizmente, a opção progressiva da época encobriu ou descartou.
“Hoje é...” se traduz em uma catarse final solo/coletiva rumo a esse elemento. Se de um lado, no “Bauretz”, o humor – muito presente – está submerso; no álbum solo, ele está explícito, sobre uma textura sonora que, às vezes, soa também progressiva.
O disco tem dois capítulos distintos:
(1) biográfico, na trilha de “Vamos tratar da saúde” e “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”.
(2) Humorístico, em “Amor em branco e preto” (um hino não oficial para o Corinthians), “Tapupukitipa” e “Tiroleite”. Talvez a única tentativa vitoriosa de se fazer bom-humor com os valores da geração hippie. Essa canção, embora não tenha se transformado em sucesso rádio-televisivo, é um dos grandes “hits” das rodinhas de violão. Em algumas, divide o pódio com “Andança”, “No woman, no cry (Não chores mais)”, “Maluco beleza”, “Sobradinho” e coisas e tais.
Se “Hoje é...” é uma volta ao início do grupo, é, também, um disco-projeto do que seria a carreira-solo de Rita. Isto é, um amálgama da fórmula antropofágica de Oswald de Andrade: do AMOR / HUMOR.
Depois de 1972, nem Rita nem os Mutantes seriam os mesmos. Cada um seguiu seu caminho. Todos, porém, dentro de alguma trilha que já estava demarcada nas obras primeiras do grupo.
A partir dessa compreensão, podemos entender que, na verdade, a primeira fase do grupo não possui apenas cinco álbuns, mas oito – os cinco do grupo mais o tardio “Technicolor”, gravado em 1970 e lançado em 1999, os dois solos de Rita.
Fechou a discografia? Para mim, não. Na verdade, essa fase tem nove discos. Ainda incluo o primeiro álbum solo de Arnaldo – “Lóki?”, de 1974.
Como? É só reler este texto. Tudo que foi falado para os dois álbuns solos de Rita serve, com maior ou menor grau, para o “Lóki?”.
Isso, se não computarmos: o disco-manifesto “Tropicália – ou panis et circensis”; o LP “A banda tropicalista de Rogério Duprat”, de 1968; e o compacto duplo de Caetano Veloso com as faixas: “A voz do morto”; “Baby”; “Saudosismo” e Marcianita”, gravado ao vivo, todos de 1968.(Marcelo Dolabela - bhz jul/agosto 2005).




 

 

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